Ontem x Hoje
Hoje
pela manhã, estava eu dando uma passadinha de olho nos principais títulos da
capa de um dos poucos jornais (embora eletrônicos) que eu realmente gosto e
tenho o costume corriqueiro de ler. #folhauol Deparei com uma matéria bastante
interessante, cujo enunciado trazia a seguinte proposta “Minha mulher
predileta é esta no espelho, diz a cartunista Laerte”. É evidente que a imagem,
nesse caso, foi o que realmente chamou a atenção para me roubar uma pequena
parcela de tempo (gente eu sou muito curiosa, provavelmente não sou a única e é
bem possível que muitos de vocês também o sejam, se aqui estão a ler essa
coluna), fui direcionada a referida página. Nunca tinha ouvido falar sobre a
cartunista em questão, por isso mesmo, peço desculpas pela ridícula (como
profissional de design e artes) ignorância da minha parte, em que se tratando
nem um pouco menos do que uma das mais importantes cartunista e chargista
brasileiras Laerte Coutinho (vergonha, eu sei). Mas não pense caro leitor, que
o conteúdo dessa primeira página, veio a dizer qualquer coisa que pudesse sanar
essa minha curiosidade, muito embora o mesmo tenha sido a principal vertente
para incidir nessa vontade de escrever o conteúdo que aqui lhes apresento
agora.
Ali não deram quaisquer
informações sobre a vida e a obra dessa figura ilustre, bem provável porque se
acredita que devido o reconhecido trabalho de quem passou por algumas das
maiores revistas do país, ganhadora de prêmio internacional e colaboradora do
mesmo veículo de mídia que estava sendo acionado, não precisava de maiores informações.
Ate porque o que se pretendia abordar nesse caso, nada tinha a ver com o seu perfil
profissional e sim com a sua ‘alma’.
As linhas que
seguiram, fizeram me dar conta do quanto despropositada ando com minha própria vida,
meus afazeres, minhas aspirações futuras. Concluindo que, ainda que em partes,
sinto-me exatamente, como essa artista sentia-se há provavelmente trinta anos atrás,
ou mais, não vou assumir o risco de adotar uma data. A leitura do por assim
dizer “poema” que Coutinho escreveu, fez-me refletir, em poucas linhas, ‘o que
eu sou hoje’, ‘para quem eu sou’, ‘porque eu sou?’. Incrível, essa vertente que
os artistas possuem na alma sempre criativa, de nos fazer pensar. Seja através
dos desenhos, ou mesmo refletindo o que são com as palavras.
Ela fez um
comparativo, de sua vida ONTEM x HOJE, respondendo as mesmas questões, que
influenciavam o seu contexto cultural.
Tomo aqui a
iniciativa (e espero não ser processada por isso) de me apropriar das suas questões,
para compor os questionamentos que acabei fazendo a mim mesma, no decorrer da
leitura de seu ‘poema’ (me corrijam se estiver errada), ao qual deixo mais
abaixo o link da fonte originária do mesmo, para que possam vocês também, ler o
original.
O texto
diz o seguinte, que ontem, Laerte (a
cartunista) desenhava para “dar vida a um projeto”. E hoje ela faz isso para “não perder o equilíbrio”. Seus “gatos antes
imaginários”. “Gatas” hoje, não são de sua posse. “Casava-se com, frequência preocupante”. Hoje, “o
assim?” Dentro do seu armário tinha, “roupas
escuras e desejos obscuros”. Hoje, o
mesmo possui um “mundo mutante”. “Sua casa era para... Doxal”. Agora é
sua “aflição”. “O limite do seu humor era mais ou menos visível. Hoje, é menos
importante do que seus horizontes”. “O Tietê tinha piratas passando. Agora, tem
capivaras pastando”. Ontem, “sentia-se em casa em São Paulo. Hoje, sente-se uma
estrangeira”. “Além de desenhar, queria fazer música às vezes”. Hoje, pensa em “fazer
implantes”. Sua “mulher predileta” de ontem era “aquela com quem estivesse”.
Hoje é “essa aí do espelho”.
Confesso
que cheguei a me perguntar, ué?! Mas afinal de contas, a quem ela se refere, tão
honesta e brilhantemente nesse ou naquele ponto. Horas é nela mesma! No fim
isso fica bem claro.
Foi então
que passei a fazer o mesmo que ela e aí vem outra confissão: comecei a ficar
com medo de um dia ter gatos. Desculpem-me aos amantes desse bichinho tão fofo
que um dia eu também já tive (inclusive chamava-se Salem e sim! Era por causa
da Sabrina, bruxinha da TV americana). A questão não é essa. O problema aqui,
cada um tem o seu. E Deus sabe por que eu tenho trauma de gatos, cachorro,
passarinho, entre outros animais que merecem todo o carinho e cuidado! Falo a
verdade, não é porque não tenho que não os respeite. Bem por isso não quero e
na verdade não posso ter animais de estimação. Ponto. Acredito, na integridade
física e mental de um animalzinho, tanto quanto na de seres humanos. E eu não
sou a pessoa mais aconselhável para cuidar de um bichinho. Primeiro preciso
aprender a cuidar direito de mim mesma. Por que dar água e comida, todos os
dias, apenas. Na minha concepção está bem longe de tratar com seriedade dos
nossos companheiros de mundo. Assim como equiparar esses direitos, elevando os
animais a um nível superior dos seres humanos, me desculpem, quando vemos tanta
coisa errada e nem vou entrar nessa discussão aqui, fica para a próxima, porque
já estou me perdendo no propósito desta. Está além da minha compreensão ainda muito
pequena e mesquinha.
Voltando
ao texto, que achei simples, por isso mesmo tão maravilhoso. Percebi que estou
num patamar muito próximo ao que estava nossa artista, quando se via ainda “desenhando
para dar vida a um projeto”, que na verdade é exatamente o que eu faço nesse
momento. E será que um dia, vou também o fazer para “não perder o equilíbrio?”
Bem, esse ponto pode ter muitas interpretações, deixo aqui apenas a minha, a da
consciência crítica, além da coordenação motora, claro. Hoje, não consigo ver outra concepção nas
palavras ‘gatos imaginários’, que não sejam os mesmos, ainda que num contexto
mais elaborado, personagens de ficção da linha na qual eu escrevo, ou seja,
romance. Sim, porque além de desenhar, também escrevo pelo simples prazer de dar
vida a personagens que fazem parte dos meus ideais. Mas será que algum dia eu vou
ter gatos, de novo? E daí veio outros questionamentos tantos, sobre envelhecer com
satisfação.
E quanto à
questão de casamento. Eu sou casada há mais de oito anos com a mesma pessoa.
Graças a Deus, vivemos em harmonia, não temos muitos problemas, no entanto, quando
direciono a palavra ‘casamento’ que pode ser (grosseiramente interpretado por
mim) também um projeto, uma ideia de vida, um objetivo único a ser alcançado. Que
tanto no meu como no caso do artista, muda com a mesma frequência. Assustadora.
Porque na maioria das vezes estou tão envolvida com tantos projetos e vêm tanta
ideia a minha cabeça, que mal posso lidar com todas elas, o que acaba
comprometendo a qualidade de todas, pois não possuo ainda a disciplina necessária
para focar toda a energia em uma só. Porque não consigo abrir mão da maioria delas,
por acreditar que são todas válidas, mas que acabam também me prejudicando na
questão de como lidar com cada uma estabelecendo e cumprindo suas tarefas mais
relevantes. Resumindo, eu quero abraçar o mundo, mas não tenho braços
elásticos! Isso é frustrante. E quando ela fala das suas “roupas escuras e desejos
obscuros”. Pelo amor dos deuses da Grécia! Quem nesse mundo, não tem bem lá no
fundo, desejo por alguma coisa que está muito distante de ser alcançada, que
você nem sabe se vale a pena, mas quer apenas saber qual vai ser a sensação.
Doce, ou ruim? E o que é pior, pode ser apenas o desejo de sentir esse desejo.
Que se for completado, perde toda a graça. No meu armário, você vai encontrar
bem mais roupas claras, do que escuras (quase tudo ali é bege), mas isso não me
exime da culpa de ainda mesmo que querendo, de alguma forma fazer a diferença
no mundo, estar passando a maior parte dos dias no anonimato, ou despercebida. Concluí
que preciso desesperadamente trazer mais cor ao meu armário. Mas isso é apenas
o começo. Porque eu realmente gosto da minha casa (que é alugada), do silêncio
e da minha própria companhia. Mas para a maioria das pessoas, eu não passo de
uma antissocial narcisista. Porém, adotei esse modo de vida, mais por não me adequar
as pessoas que me consideram assim em questão, do que não gostar de pessoas. Eu
amo as pessoas, prova disso é que leio e me apaixono com facilidade pela ideia
clara de qualquer pessoa que fale para mim de concepções de um mundo positivo.
O que eu não quero é um monte de gente falando na minha cabeça de crise, ou o que
passou na “maldita” me desculpem o desabafo novela das seis, sete, oito, tratando
disso como se fosse um contexto real. Pelo amor dos deuses de novo. Eu não
quero saber, se Luizinho, vizinho, ou pai de todos perdeu a missa de domingo
porque resolveu que era melhor para ele (que trabalha a semana inteira e merece
um pouco de sossego, sem ninguém batendo na porta logo cedo) dormir e descansar
até mais tarde. Voltemos à questão do problema... Espero do fundo do meu
coração, chegar ao fim dos meus dias, contados aqui nessa terra desde o dia em
que nasci com tanta predisposição de ficar sozinha comigo mesma, ainda que meu
filho e meu marido, ou meus netos (se eu os tiver e espero que sim) estejam
brincando no outro cômodo, ou na TV, ou nos seus meios de comunicação, que a
essa altura devem ser muito mais evoluídos que os de hoje. Enfim, que eu não
tenha essa necessidade de estar rodeada de pessoas, apenas para dizer que a
minha ausência seria sentida por muitos, que não me veja na situação de ir à
busca de novos lugares, porque não consigo conviver com meus próprios
pensamentos, mas que se isso acontecer, seja para aprimorar meus conhecimentos,
aquietando ainda mais a minha alma, não como refúgio, mas como novo experimento.
Como artifício.
Bem
acabei me alongando de mais, por isso vou completar apenas com mais uma parte de
suas questões, que se referem ao limite do seu humor, que antes eram mais ou
menos visíveis. Exatamente como o que vejo hoje, em mim. Esse é mais um ponto,
que preciso mudar, indo de encontro a um equilíbrio. Eu não tenho paciência,
para hipocrisia. No entanto os hipócritas somos nós mesmos, em alguma parte da
vida. O que resulta na falta de paciência com nossos próprios erros, ou mais
grave, na falta de persistência em mudar a nós mesmos. Ela coloca mais alguns
pontos interessantes, que vou esperar que vocês mesmos, busquem e leiam (por
favor!), até chegar ao ponto que realmente é o mais importante. Antes sua “mulher
predileta, era aquela com quem estivesse”. Hoje é “essa aí do espelho”. Isso
porque nossa artista em questão, passou por uma transformação, que foi moldando
sua vida de tal forma, que hoje pode dizer com todas as letras, assume o seu
amor por si mesma. Será que algum dia, vou poder pensar assim também? Quero
dizer, me olhar no espelho e realmente sem demagogia, me sentir a mulher mais
importante da minha vida? A predileta entre tantos ícones, conseguir adquirir o
que almejo de cada uma pequena parcela, para juntar tudo e transformar em uma
só, com alguma ressalva satisfatória ser alguém que eu quero ser. Uma pessoa,
boa, bem sucedida e comunitária? Que flerta agora com as palavras, bem mais do
que antes, ou bem menos do que agora, mas que alcançou a felicidade de se olhar
no espelho e ver alguém de quem tem orgulho de ser. Não ‘apenas’ um reflexo
bonito, mas um que resplendece a luz que almeja emanar. Por que é isso que eu
quero. Eu quero um dia ser luz. Não apenas para outras pessoas, mas
principalmente para mim mesma. Saber lidar com a iluminação das ideias de forma
clara. Em prol de muitos, se não puder alcançar todos. Ser luz para alguns,
como foi mesmo sem saber, Coutinho de quem não vou mais esquecer, porque com
sua perspectiva conseguiu alcançar de alguma forma, me fazendo refletir em mim
mesma, no que eu quero para o futuro.
Confiram os créditos do original: no link -> http://www1.folha.uol.com.br/serafina/2016/09/1807220-alem-de-desenhar-quero-fazer-implantes-diz-a-cartunista-laerte.shtml
#laertecoutinho
#ontemxhoje