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sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Leitura em família



Há alguns anos, tínhamos o costume aqui em casa de fazer uma leitura conjunta. Que funcionava mais ou menos assim, eu lia para meu filho antes de dormir. A história favorita dele – A Arca de Noé – eu podia perguntar toda a noite a mesma coisa "qual história você quer que eu leia hoje?" a resposta era sempre a mesma “conta aquela do Noé mãe!” – isso quando ele mesmo não abria o grosso livro que tinha tantas páginas quantas necessárias para se ter uma história a ser contada por dia, o ano inteiro, na verdade 365, para ser mais precisa. E se fosse um ano bissexto?  Bem, aí entraria Noé com seus múltiplos casais de bichos entrando na arca e estaria tudo resolvido. Mais uma vez. Bem, claro que essa fase passou – não tão rápido quando se imagina, nem tão devagar quanto eu gostaria – mas enfim. Tudo passa. Até Noé passou, com seu ramo de oliveiras e voltou para terra depois de longo período no mar. E mais tarde vimos o filme juntos “Noé”, inclusive daqueles de permanecer na memória com honra a ser citado entre os melhores que já vi. Fantástico. Mas voltemos a leitura. Mais tarde com toda aquela “onda” de “Diário de um banana” do Jeff Kinney. Que eu carinhosamente apelidei de “João banana”. Não sei porque até hoje não consigo pensar nesse personagem, sem ser assim. Não adiantaram todas as correções – Não é João mãe... É Greg. – Não tem jeito. Para mim é João e pronto. No começo eu achava esses livros muito infantis, sem graça, perspectiva ou qualquer atrativo que pudesse me chamar a atenção. No entanto, passei a observar que ele era simplesmente fascinado por essa leitura. - Chegava a fazer até videos dele mesmo folheando os livros, experimentação videográfica - Lógico que os desenhos facilitam bastante, mas convenhamos, ele era apenas uma criança de 7 anos e lia todas as páginas no mesmo dia. É exatamente o que ele deveria estar lendo. Isso era o que eu pensava, mas aí seu pai começou a fazer a leitura compartilhada para ele – o que aliás ele adorava, muito mais do que as minhas. Porquê? Ah, essa resposta é bem simples. Até nós adultos damos voz aos personagens, ainda que seja apenas em nossas mentes, agora imagine você ter acesso a isso de verdade. Genial não?! Pois é. Era o que acontecia. Para cada personagem, uma voz e trejeitos diferentes. Além de uma série de efeitos sonoros que surgiam junto com a história. E os dois divertiam-se a valer com a brincadeira de ler. Comecei a prestar mais atenção ao contexto do enredo e para minha surpresa comecei a gostar também de todas aquelas maluquices do Greg e seu amigo digamos quase tão desajeitado quanto ele. E dessa intimidade com a leitura em família, que surgem coisas que ficam na nossa memória por muito tempo, como dizer “EPA! NENEM!” por exemplo, toda vez que você quer demonstrar que está contrariado com alguma coisa que o outro diz. Ou o fato de o irmão mais velho de Greg tê-lo ensinado a fazer as coisas mal feitas, para que ninguém pedisse que fizesse novamente. - aí eu percebi que a leitura não era tão ingênua assim. Graças a Deus que eu compartilhei desses quadrinhos, pois caso contrário, jamais teria descoberto, que o espertinho estava usando essa técnica comigo. Em casa! Momentos inesquecíveis. Vimos a todos os filmes da série. Ele leu todos os livros. E até hoje é a sua coleção favorita. Ainda o flagro de vez em quando, mesmo com toda essa nova fluente de youtubers catando na estante um dos seus volumes alternadamente a folhear como se buscasse por entre as páginas apenas relembrar alguma coisa que ficou no tempo com um sorriso acolhedor em seus lábios. E então tenho certeza, de que fiz por certo a melhor escolha. O melhor investimento. Muitas vezes nessa época quando perguntávamos o que ele queria de presente de aniversário, natal, pascoa... A resposta era sempre a mesma. “O novo do Diário de um banana”. E claro sempre ganhava. Porque num mundo onde as pessoas estão valorizando tanto os aparelhos tecnológicos, as roupas de grife, uma criança pedir de “Natal” um livro... Ela merece até 10. Com muito orgulho. Uma pena que como eu disse, tudo passa. E infelizmente, a tecnologia venceu outra vez, não que isso seja de todo ruim, tudo tem a hora certa, e como eu acredito nas pessoas, e já tive provas de que tudo passa. Estou aguardando ansiosa pelo momento em que a essa fase minecraft, roblocks, youtubers, também passe. E que os livros voltem a fazer parte da sua vida... Como antes. 

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