Leitura em família
Há alguns anos, tínhamos o costume aqui em
casa de fazer uma leitura conjunta. Que funcionava mais ou menos assim, eu
lia para meu filho antes de dormir. A história favorita dele – A Arca de Noé –
eu podia perguntar toda a noite a mesma coisa "qual história você quer que eu leia hoje?" a resposta era sempre a mesma
“conta aquela do Noé mãe!” – isso quando ele mesmo não abria o grosso livro que
tinha tantas páginas quantas necessárias para se ter uma história a ser contada
por dia, o ano inteiro, na verdade 365, para ser mais precisa. E se fosse um
ano bissexto? Bem, aí entraria Noé com
seus múltiplos casais de bichos entrando na arca e estaria tudo resolvido. Mais
uma vez. Bem, claro que essa fase passou – não tão rápido quando se imagina,
nem tão devagar quanto eu gostaria – mas enfim. Tudo passa. Até Noé passou, com
seu ramo de oliveiras e voltou para terra depois de longo período no mar. E
mais tarde vimos o filme juntos “Noé”, inclusive daqueles de permanecer na
memória com honra a ser citado entre os melhores que já vi. Fantástico. Mas
voltemos a leitura. Mais tarde com toda aquela “onda” de “Diário de um banana” do Jeff Kinney. Que eu carinhosamente apelidei de “João banana”. Não sei porque até hoje não
consigo pensar nesse personagem, sem ser assim. Não adiantaram todas as
correções – Não é João mãe... É Greg. – Não tem jeito. Para mim é João e
pronto. No começo eu achava esses livros muito infantis, sem graça, perspectiva
ou qualquer atrativo que pudesse me chamar a atenção. No entanto, passei a
observar que ele era simplesmente fascinado por essa leitura. - Chegava a fazer até videos dele mesmo folheando os livros, experimentação videográfica - Lógico que os
desenhos facilitam bastante, mas convenhamos, ele era apenas uma criança de 7
anos e lia todas as páginas no mesmo dia. É exatamente o que ele deveria estar lendo. Isso era o que eu pensava,
mas aí seu pai começou a fazer a leitura compartilhada para ele – o que aliás
ele adorava, muito mais do que as minhas. Porquê? Ah, essa resposta é bem simples.
Até nós adultos damos voz aos personagens, ainda que seja apenas em nossas mentes,
agora imagine você ter acesso a isso de verdade. Genial não?! Pois é. Era o que
acontecia. Para cada personagem, uma voz e trejeitos diferentes. Além de uma
série de efeitos sonoros que surgiam junto com a história. E os dois
divertiam-se a valer com a brincadeira de ler. Comecei a prestar mais atenção
ao contexto do enredo e para minha surpresa comecei a gostar também de todas
aquelas maluquices do Greg e seu amigo digamos quase tão desajeitado quanto
ele. E dessa intimidade com a leitura em família, que surgem coisas que ficam
na nossa memória por muito tempo, como dizer “EPA! NENEM!” por exemplo, toda
vez que você quer demonstrar que está contrariado com alguma coisa que o outro
diz. Ou o fato de o irmão mais velho de Greg tê-lo ensinado a fazer as coisas
mal feitas, para que ninguém pedisse que fizesse novamente. - aí eu percebi que a leitura não era tão ingênua assim. Graças a Deus que
eu compartilhei desses quadrinhos, pois caso contrário, jamais teria
descoberto, que o espertinho estava usando essa técnica comigo. Em casa! Momentos
inesquecíveis. Vimos a todos os filmes da série. Ele leu todos os livros. E até
hoje é a sua coleção favorita. Ainda o flagro de vez em quando, mesmo com toda
essa nova fluente de youtubers catando na estante um dos seus volumes alternadamente a folhear como se buscasse por entre as páginas apenas relembrar alguma coisa
que ficou no tempo com um sorriso acolhedor em seus lábios. E então tenho
certeza, de que fiz por certo a melhor escolha. O melhor investimento. Muitas
vezes nessa época quando perguntávamos o que ele queria de presente de
aniversário, natal, pascoa... A resposta era sempre a mesma. “O novo do Diário
de um banana”. E claro sempre ganhava. Porque num mundo onde as pessoas estão
valorizando tanto os aparelhos tecnológicos, as roupas de grife, uma criança pedir de “Natal” um livro... Ela merece até 10. Com muito orgulho. Uma pena que
como eu disse, tudo passa. E infelizmente, a tecnologia venceu outra vez, não
que isso seja de todo ruim, tudo tem a hora certa, e como eu acredito nas
pessoas, e já tive provas de que tudo passa. Estou aguardando ansiosa pelo
momento em que a essa fase minecraft, roblocks, youtubers, também passe. E que os livros
voltem a fazer parte da sua vida... Como antes.
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